sexta-feira, 16 de setembro de 2016

Trekking para Inle Lake em Myanmar

A experiência que mais nos marcou em Myanmar foi sem dúvida a caminhada de 3 dias (60 km) pelas montanhas e aldeias, com um guia incansável em nos contar tudo sobre o seu pais e a responder a todas as dúvidas que foram surgindo. Além disso, a boa disposição e à vontade do grupo de viajantes fez com que que se tornaram rapidamente em grandes amigos.

Depois de Hsipaw, o nosso próximo lugar a visitar era Inle Lake, destino muito procurado pelos turistas por ser uma vila construída sobre um lago e tínhamos conhecimento da possibilidade de fazer um trekking de 3 dias (60 km) desde Kalaw até Inle Lake. Só lemos bons comentários relativamente a esta experiência por isso decidimos abraçar esta aventura e apanhámos mais um night bus para Kalaw onde, após um dia de descanso, iniciámos o nosso trekking com a companhia Eversmile que muito recomendamos. O grupo era composto por 5 alemães, uma francesa, um britânico, dois portugueses (nós) e o nosso guia, o Momo. O grupo era espectacular  e desde o primeiro dia se criou um bom ambiente entre todos. 

Primeiro dia caminhámos uns 20 km a subir e descer montanhas, atravessar riachos e parámos para almoçar no topo de uma montanha que tinha uma vista espectacular. 




Depois do almoço já estava na hora de continuar. Desta vez passámos por aldeias onde pudemos ver o dia-a-dia dos locais e foi onde encontrámos um grupo de crianças que nunca vamos esquecer. Estavam a brincar na rua e quando nos viram ficaram muito mas muito felizes e pediram (por gestos, pois não falavam inglês) para lhes tirarmos fotos. Só queriam pousar para as fotos e tirar selfies. Quando lhes emprestámos a câmara fotográfica para serem eles a tirar fotos ninguém os podia parar de tanta felicidade que tinham. Estávamos perante futuros fotógrafos e modelos sem dúvida. Houve troca de abraços e sorrisos como se nos conhecêssemos há muito tempo e foi uma grande lição para nós, ocidentais materialistas, ver como se pode fazer alguém feliz com tão pouco. 


Apesar de toda gente querer ficar com estas crianças o dia todo a caminhada lá continuou e, pouco antes do pôr do sol, chegámos finalmente à casa duma família onde íamos pernoitar. Íamos dormir todos juntos numa sala grande com apenas uns colchões fininhos no chão e o sítio para tomar banho era no exterior, um tanque de água fria com um balde. Tivemos um delicioso jantar típico birmanês e escusado será dizer que logo a seguir ao jantar foi tudo dormir, ninguém aguentava ficar na conversa de tão cansados que estávamos.


O segundo dia começou muito cedo. Logo a seguir ao pequeno almoço iniciámos a nossa caminhada. Durante o dia apanhámos mais sol que no dia anterior, o que dificultou a caminhada. mas pelo caminho tivemos direito a visitar uma cascata onde deu para nadar e refrescar. Uma boa parte da caminhada foi feita numa linha férrea onde o comboio só passava uma vez por dia e nesse dia já tinha passado e ainda bem pois era o único caminho. Passámos por varias aldeias de etnias diferentes e também parámos para ver o negócio tradicional de confecção de roupa.



Já de noite, chegámos à segunda casa familiar onde íamos pernoitar. Tivemos um jantar divertidíssimo. Para além da comida ser deliciosa, estivemos a cantar e até a aprender uma musica birmanesa. A noite estava a ser excelente até ao momento que vimos na parede uma grande aranha de uns 15 cm de diâmetro, foi o pânico entre os aracnofóbicos. O  problema não foi só essa arranha, pois a ela conseguimos manda-la embora, o grande problema era que as paredes da casa eram de palha com grandes buracos e havia também um intervalo de uns 30 cm à volta da casa entre a parede e o telhado. Dito isto, chegou-se à conclusão que podia entrar toda a espécie de bicharada e mais alguma como essa aranha e quem sabe maiores. De novo dormimos todos na mesma sala no chão, ou melhor, tentámos dormir porque não foi uma noite fácil.



Terceiro dia, talvez o mais difícil de todos. Tomámos o pequeno almoço e seguimos. Desta vez o caminho era mais pelos campos sem árvores à volta e estava um calor insuportável logo pela manhã. Foi um dia de mais uns 20 km mas com o calor a apertar pareceu muito mais. Pelo caminho ainda arranjámos um membro novo, um cão abandonado que nos acompanhou metade desse dia, parecia que nos conhecia há anos. Após o almoço, o caminho que se seguia era de barco pois tínhamos de atravessar o lago Inle. Foi aí que com grande tristeza nos despedimos do Momo, o nosso guia, após os 3 dias juntos repletos de gargalhadas e conversas sem fim.


Seguimos de barco até à vila Nyaung Shwe onde íamos ficar alojados, vila mesmo ao lado do Inle Lake. Como íamos ficar lá todos ainda durante uns dias para recuperar do trekking, passámos os dias seguintes juntos com jantares, passeios de bicicletas pela vila e visita a uma quinta de vinhos onde conseguimos admirar um lindo por do sol. 



Uma outra atividade que fizemos durante a nossa estadia foi um passeio de barco pela vila flutuante. O passeio é algo espetacular. O barco passa por entre as casas totalmente em cima da água, consegue-se ver as pessoas nos seus afazeres do dia-à-dia em cima da água com a maior naturalidade. O trabalho todo é feito com barcos, têm plantações de legumes, as crianças brincam na água, pessoas pescam perto das casas, toda uma realidade ao que não estamos habituados. 







quarta-feira, 31 de agosto de 2016

Relatos de Bagan


A primeira memória que me vem à cabeça sobre Bagan são os 12 km que andamos a pé, às 7 da manhã, com mais de 30 graus de calor e com as mochilas as costas, tudo isto  para não entrar no esquema dos taxistas que te esperam na estação do autocarro pedindo-te preços absurdos. Isto porque a paragem de autocarro fica bem longe da cidade e a única maneira de ir para a cidade é de táxi, logo...  os condutores pedem preços que não lembra a ninguém. Dissemos que íamos a pé e eles riram-se (depois dos 12 km percebemos porquê). Começámos a caminhada e ainda foram atrás de nós umas quantas vezes na esperança de termos mudado de ideias e nós teimosos e cheios de orgulho (apesar de estarmos a morrer com o calor) dizíamos sempre que não queríamos o táxi. Já se tinha tornado mais uma questão de orgulho e não tanto de poupança. Foi muito cansativo, é verdade, mas o dinheiro que poupámos valeu a pena pois para nós e para o estilo de viagem que estamos a fazer todo o dinheiro poupado pode fazer a diferença. É verdade seja dita não foi assim tão mau, aguentou-se. Quem nunca teve como desejo andar 12 km ao sol com mochilas as costas no meio de Myanmar?!?



Sobre Bagan que é o que interessa mesmo só tenho a dizer que vale mesmo muito a pena lá ir. Visitámos o recinto num dia e é mais do que o suficiente a não ser que sejas um grande entendedor de arquitectura e templos budistas. Há várias maneiras de fazer a visita: a  pé ou bicicleta (o que não recomendamos pois estão uns 40 graus durante o dia e o recinto é muito extenso), de mota eléctrica (maneira muito económica) ou, para um orçamento mais elevado, pode-se ir de carroça ou carro com motorista privado. Há para todos os gostos e bolsos. O nosso bolso permitiu alugar uma mota eléctrica e foi muito divertido. Fomos ver o nascer de sol o que foi bonito mas como estava vento os balões de ar quente não partiram nesse dia e não tivemos a clássica vista do nascer de sol em Bagan com os balões. Os templos (mais de 2000) são um mais bonito que o outro e os maiores (que dá para subir) têm uma vista melhor que a outra. É difícil resistir e não tirar muitas fotos pois cada ângulo é diferente. É um dia cansativo com muito calor, transpira-se muito e bebe-se muita água mas o que se vê recompensa isso tudo. 




A nível de alojamento, Myanmar tem apenas uma pequena parte da sua oferta publicitada nos sites pelo que para os mais aventureiros o melhor a fazer é não marcar alojamento com antecedência, especialmente em Bagan. O quarto mais barato no booking.com era 35$ por noite, achando demasiado caro decidimos ir sem alojamento marcado e encontrámos o sítio onde dormimos por 10$. Ok, pode não ter as mesmas condições mas para nós tanto faz, não é o alojamento que nos faz felizes. E o dono da nossa guesthouse era muito simpático (como a maioria) não se cansava de estar à conversa connosco e contar-nos histórias sobre o passado e a situação actual do país. 

Partimos de Bagan para Mandalay de night bus, sendo que não temos muito a contar sobre Mandalay uma vez que só lá ficamos um dia antes de partirmos para Pyi-u-lwin. Foi em Pyi-u-lwin que tivemos uma outra viagem surreal de comboio. A maioria dos turistas vão para Phi-u-lwin para apanhar um famoso comboio até à cidade Hsipaw. Este comboio é famoso por ter sido construído pelos britânicos depois de conquistar o país. A jornada é bem longa (passámos lá o dia inteiro) mas é compensada pela paisagem linda que se vê. À semelhança da que tivemos em Yangoon ou de qualquer viagem de comboio em Myanmar, esta foi igualmente épica. O comboio abana literalmente por todo lado e vais a viagem toda aos saltinhos. É preciso atar bem as malas senão elas saltam pela janela fora já que todas as janelas estão abertas para refrescar a carruagem. O comboio passa por entre as montanhas e há uma parte em que passa por uma ponte de mais de 100 anos chamada Gokhteik Viaduct Bridge. Aí ele anda mesmo devagarinho, está quase parado pois de outra maneira não se deve aguentar em cima da ponte. Foi nessa viagem que conhecemos um senhor que estava com um rádio portátil e tentar apanhar a frequência certa pois era o dia da tomada de posse do primeiro presidente democráticamente eleito e o seu discurso histórico ia passar na rádio. Fez questão de passar por todas as pessoas da carruagem e traduzir o que o discurso. Não se cansava de dizer o quão orgulhoso estava por este momento é o quanto esperou por ele. 






Chegados a Hsipaw foi por acaso que fomos visitar o palácio do antigo príncipe do estado Shan. Myanmar é formado por vários estados e Hsipaw é a capital de um deles, o estado Shan. A visita a este palácio foi algo diferente, não é tipo um museu por onde possas passear mas sim uma casa onde ainda vive o irmão do príncipe com a respectiva esposa. Estava lá apenas a esposa que nos contou em primeira pessoa a história desse palácio, a vida do príncipe que era casado com uma austríaca, das dificuldades que passaram durante o regime e como ele desapareceu sem ninguém lhe ter o rasto. Claramente foi assassinado. 

Cada sítio que visitávamos ou cada conversa com os locais sobre o passado ou o que esperam do país, deixava-nos cada vez mais apaixonados e curiosos em saber mais e mais sobre este país misterioso. 

quarta-feira, 29 de junho de 2016

Yangoon, a cidade intensa

(março 2016)

Yangoon é a maior cidade do Myanmar tendo sido no passado capital do país. Chegámos lá meio perdidos, não sabíamos bem o que esperar da cidade, o que visitar ou mesmo a situação do país. Afinal de contas estivemos no Myanmar num momento histórico, a tomada de posse do primeiro presidente após mais de 50 anos de ditadura. Ficámos hospedados na zona de chinatown que é onde tudo acontece e logo no primeiro dia nos apercebemos de quão intensa é a cidade. Mercados de rua a perdê-los de vista, diversas barraquinhas com comida da mais variada possível sendo ela pratos locais ou especialidades exóticas como larvas fritas, grilos grelhados ou outras espécies que nem sei o que eram. As ruas da cidade cheias de mesinhas e banquinhos de plástico, baixos como se fossem do jardim de infância, onde as pessoas se sentam para comer e a parte interessante é que em quase todas as mesas há um jarro de chá grátis. Mulheres e homens de saia a mascar o tabaco, pessoas com o thanakha na cara, monges em grupos a cantar à frente dos estabelecimentos para receberem oferendas. Uma grande mistura de comunidades tais como hindus, muçulmanos e budistas o que torna a cidade mais interessante. Ficámos logo apaixonadas pela diversidade que se fazia sentir à nossa volta. 



Foi complicado passear pelas ruas dado o calor que se fazia sentir no entanto estas eram estreitinhas e os prédios acabaram por fazer sombra o que nos deu mais alento para iniciar o nosso passeio pela cidade. Primeira paragem foi no Sule Pagoda nada longe de chinatown. Chegámos lá e grande parte estava em obras mas mesmo assim deu para visitar e perceber um pouco dos rituais das pessoas que lá se encontravam. Fomos abordados por um monge que nos fez uma visita guiada às instalações do qual desconfiamos um pouco da sua honestidade pois no final pediu-nos dinheiro supostamente como doação para o mosteiro. Também não foi muito dinheiro mas não gostámos da atitude. Ele contou-nos que as pagodas no Myanmar têm 8 cantos que têm a ver com os 8 passos da filosofia budista para chegar ao nirvana. Cada canto no caso das pagodas é representado pelos dias da semana tendo sido quarta feira dividida em duas partes manhã e tarde (ele não soube explicar porquê, daí a desconfiança). Cada dia/canto tem uma estátua dum animal e uma fonte e o ritual consiste em ires para o canto que representa o dia do teu nascimento e regares a estátua do animal animal com 8 copos de água. Sinal de sorte na vida. 


Outro ponto de visita foi a Shwedagon Pagoda, monumento majestoso da cidade com 99 m altura e considerado a Pagoda mais sagrada do Myanmar já que se acredita que contém relíquias dos 4 Budas que existiram até agora. O monumento é realmente grande e de uma beleza impressionante. Não entrámos lá dentro devido ao preço exorbitante que estavam a pedir mas conseguimos admirar a sua beleza por fora. 


Passámos também uma bela e divertida manhã num comboio (chamado o circular) que anda em círculo à volta da cidade passando também pela parte mais rural de Yangoon. E não é que foi das manhãs mais divertidas?! Então foi o seguinte. Entrámos no comboio meio na dúvida do que nos esperava. O comboio era bastante antigo, bancos de madeira as portas nem fechavam, sem ar condicionado, o comboio sujo. Enfim, pensávamos que íamos perder uma manhã para nada mas também por 3 horas ninguém ía morrer. E fomos. O comboio começa a andar devagar, não muito cheio, meia dúzia de turistas espalhados pelas carruagens, nada de especial por enquanto. De repente começa a ganhar balanço e foi aí que o panorama mudou. Não é que o comboio vai literalmente aos saltos e a abanar por todo o lado! não estou a exagerar. É daquelas coisas que racionalmente sabes que é perigosa mas tem tanta piada que nem queres saber. Chegámos à parte mais rural de Yangoon e aí as coisas melhoram mais ainda. O comboio começa a diminuir a velocidade porque vai parar na próxima paragem. Vejo de longe as pessoas paradas na paragem com imensos sacos de vegetais, legumes, etc e penso que deverá ser uma espécie de mercado. De repente e sem me aperceber de como tudo começou vejo sacos, malas, pessoas (sim, pessoas) a voar pela janela, portas tudo por onde era possível entrar e marcar lugar. Foi algo tão inesperado e rápido que ficámos pasmados a olhar para isso tudo e nem conseguimos filmar desde o início. Em menos de 2 minutos, sem exagero, o comboio estava cheíssimo de sacos grandes cheios de verduras e legumes, pessoas sentadas em cima de sacos ou a andar por cima deles. Algo indescritível! O comboio começa de novo a andar e durante a viagem essas pessoas que entraram se pensam que estiveram a descansar estão enganados. Passaram a viagem toda a tratar das suas mercadorias. Separar os melhores vegetais dos piores, cortar as partes que não interessavam e atirar pela janela fora, arrumar melhor em doses mais pequenas, nas paragens ainda vendiam, era todo um spot de trabalho que ali estava instalado. Foi sem dúvida das viagens de comboio mais surreais e divertidas.


Em Yangoon tivemos o primeiro contacto com a cultura birmanesa. Estivemos lá 3 dias mas quem estiver com tempo apertado consegue ver o essencial num dia inteiro bem programado. 

quarta-feira, 15 de junho de 2016

Myanmar aos nossos olhos

(março 2016)

Myanmar ou antiga Birmânia?? Pouco conhecíamos sobre Myanmar antes da nossa visita para além da existência de Bagan e do prémio Nobel da paz entregue a Aung San Suu Kyu. No entanto foi o suficiente para decidirmos visitar este país misterioso que ainda há pouco abriu as suas portas para o turismo. Ficámos completamente apaixonados desde os primeiros segundos e não foi tanto pelos pontos do must see do país mas sim pelas pessoas que lá vivem e pela cultura. Myanmar não é apenas Bagan, Inle Lake ou a Golden Rock que são lugares lindíssimos sem dúvida, Myanmar são as pessoas e os seus hábitos e passo a explicar as razões.

Myanmar é ver tanto as mulheres como os homens a usar uma espécie de saia, as longyi, que não passa de um tecido em forma tubular que se vai ajustando ao corpo através de um nó no caso dos homens ou de uma dobra no caso das mulheres. É uma peça de roupa muito prática na verdade uma vez que se engordares ou emagreceres é só ir ajustando. As cores usadas pelos homens são mais neutras mas as mulheres usam cores mais vivas o que torna a longyi numa peça muito fashion. Sendo ajustável ao corpo, serve para colocar ao nível das ancas o telemóvel e a carteira não sendo assim necessário mala ou bolsos. Melhor, parece ser uma peça muito útil para fazer chichi no meio da rua sem ninguém se aperceber, pois vimos um homem que pensávamos nós que estava sentado no passeio mas na verdade estava a fazer as suas necessidades e o longyi ajudava-o a disfarçar :)


Myanmar é ver as pessoas usar diariamente o thanakha na cara. O thanakha é uma pasta que é usada pelas mulheres, crianças e rapazes solteiros para diferentes fins, tais como, proteger do sol, hidratar a pele e também como uma espécie de make up. Pode ser comprada nos supermercados ou fazê-la manualmente que é o que a maioria das pessoas fazem. Consiste em esfregar um pequeno ramo de uma árvore local contra uma pedra lisa adicionando algumas gotas de água até ficar uma pasta amarela e depois aplicar na cara especialmente na testa, nariz e bochechas. 


Myanmar é ver pessoas a mascar tabaco a toda hora, sejam mulheres ou homens. E não é apenas o tabaco que torna a coisa mais esquisita. Basicamente essa coisa de mascar consiste numa folha de Betel (que tem propriedades energéticas) com uma pasta de pó de pedra tipo betume (sim, betume que se usa nas obras) e folhas secas de tabaco. Às vezes tem amendoins ou outros sabores, é todo enrolado como se fosse uma bolinha e põe-se na boca ficando o dia todo a mascar isso como se fosse pastilha elástica. É a coisa mais esquisita que vi porque: 1º aquilo tem uma pasta tipo betume; 2º tem um cheiro horrível; 3º deixa os dentes e lábios vermelhos (escuro) o que não é nada bonito de se ver; 4º isso deve fazer tão mas tão mal à saúde; 5º as pessoas que mastigam isso estão o tempo todo de boca fechada porque isso as impede de falar; 6º estão sempre a cuspir para todo lado, coisa nada agradável à vista para além de deixar chão todo manchado de vermelho. Mas pronto, dizem que é tipo o redbull ou café que da energia mas numa versão tão não saudável! Prefiro o café.


Myanmar é onde me senti mais famosa. Passar pelo sudeste asiático tem nos feito sentir estrelas. Muitas vezes há olhares tímidos, vemos pessoas a apontar para nós, pedem-nos para tirar fotos ou às vezes nem pedem, simplesmente tiram! Afinal de contas nós somos diferentes por cá, e isso desperta uma certa curiosidade. Myanmar foi onde nós nos sentimos mais famosos, talvez por não estarem tão habituados ao turismo e porque a maioria deles nunca saíram do país e nunca ou poucas vezes viram alguém de fora. 


Na foto de cima, são umas crianças que estavam a brincar na rua algures nas montanhas quando estávamos a fazer o trekking entre Kalaw e Inle Lake. Ficaram tão felizes quando nos viram que pediram para lhes tirarmos fotos. Apenas queriam posar para a máquina e isso os deixou mais do que felizes! Segurar sozinhos nas nossas máquinas e tirarem por eles fotos foi uma outra alegria inexplicável. Houve troca de abraços e sorrisos como se nos conhecêssemos há muito tempo. Foi tão bom ver como se pode fazer alguém feliz com tão pouco. Foto à esquerda, em Hpa An, elas começaram a olhar discretamente e com uma certa timidez para mim (Natalia), cruzámos os olhares e deu-se um sorriso tímido dos dois lados. Quando me viu a sorrir, uma das miúdas aproximou-se timidamente e mostrou-me o telemóvel como quem fosse pedir para tiráramos uma selfie. Tirámos a foto, claro, e depois as amigas juntaram-se e tirámos mais umas quantas e uma para mim como recordação. A terceira foto foi num dos templos em Bagan e foi a mais cómica de todas. Estávamos a admirar as pinturas das paredes desse templo quando nos cruzamos com um grupo que talvez fosse uma grande família. De repente, vemos uma senhora a empurrar um rapazinho de uns 6/7 anos para nós e a falar com outra pessoa algo que devia ser para tirar a foto. Tiraram a foto e logo a seguir vem uma miúda ao pé de nós e tira a foto, depois o namorado junta-se, a seguir era a vez de um outro casal, depois mais umas pessoas. Tirámos fotos com o grupo todo! E no final da visita, quando já estávamos a sair do templo, a mesma senhora estava lá fora com um outro senhor de idade a nossa espera para ele também tirar uma foto connosco. Foi algo inesquecível e muito engraçado, viemos para estes países vermos algo diferente e os diferentes somos nós ;)

Myanmar é uma grande felicidade do início de uma democracia! A maioria das pessoas têm vontade e diria até necessidade de falar sobre o país, o regime e as mudanças que estão a acontecer ou esperam que venham a acontecer. Afinal de contas só agora é que podem falar abertamente sobre esse tema visto que até há bem pouco tempo, devido à ditadura, era perigoso expressar as suas opiniões. Estivemos em Myanmar na semana de tomada de posse do primeiro governo de Aung San Suu Kyi após mais de 50 anos de ditadura e era notória a felicidade na cara das pessoas. No comboio a caminho de Hsipaw, encontrámos um senhor a sintonizar o seu pequeno rádio portátil para ouvir o discurso de tomada de posse do primeiro presidente democraticamente eleito. A felicidade era tanta que passava de pessoa em pessoa para traduzir o discurso e não parava de dizer o quão feliz e orgulhoso estava por este momento histórico do seu país. Mais tarde, em conversa com ele enquanto desfrutávamos  um chá típico, descobri que era professor e que nunca saiu do país mas conhecia tanto sobre Portugal especialmente Camões e Saramago. Que orgulho! Para quem quer aprender mais sobre o país recomendo a visualização do filme "The Lady" até há pouco proibido no país e que relata toda a luta da Aung Sang Suu Kyi.  


Myanmar é andar de comboio e pensares que estás na Disney. O comboio abana e salta por todo lado pelo que se não atares ou segurares as malas elas saltam literalmente pela janela num ápice pois como não há ar condicionado as janelas estão sempre abertas. O problema é que a distância entre as linhas é demasiado curta para a largura das carruagem o que faz com que o comboio esteja sempre a saltitar e a abanar de um lado ao outro dando até a impressão muitas vezes que o comboio vai descarrilar. O país deve ter das linhas de comboio mais antigas do mundo e com escassa manutenção o que faz com que andar de comboio demore 2 ou três vezes mais do que de autocarro pois, por ser perigoso, o comboio anda devagar. A viagem não é nada confortável e perigosa mas isto é Myanmar e tem que se experimentar uma vez na vida.


Myanmar é não poderes andar a vontade em todas as partes do país. Ok, isto é chato mas faz parte do país. Sabiam que há estados do país especialmente nas fronteiras onde os turistas não são autorizados entrar? Estas zonas estão em guerra civil entre as minorias étnicas locais que querem a sua independência e o exercito birmanês (os birmaneses são a etnia dominante no país). É tudo uma questão de interesses uma vez que nesses estados encontram-se os produtores de ópio (Myanmar é o segundo maior produtor de ópio do mundo tendo sido o maior até 2008) e também são os estados mais ricos em pedras preciosas. Culturalmente devem ser zonas muito interessantes pelas diferentes etnias que lá vivem no entanto a visita fica para a próxima quando for seguro passear por essas bandas. 

Myanmar é isto tudo e muito mas muito mais. É um país que dispersa uma curiosidade enorme, tanto pelos estados proibidos como pela história e mais ainda pelo futuro deste país. É um país com uma cultura tão interessante e com pessoas tão genuínas que te faz querer ficar mais. Um país certamente a voltar para ver o rumo que este governo vai tomar. Tenho fé no governo e especialmente em Aung Sang Suu Kyi, ela é uma mulher forte e certamente vai fazer com que as coisas melhorarem.

Boa sorte Myanmar, voltarei sem dúvida para te abraçar mais uma vez.


sábado, 21 de maio de 2016

O norte do Vietnam

O norte do Vietname é simplesmente magnifico! As paisagens montanhosas com os seus campos de arroz esculpidos nas encostas das montanhas são de deixar qualquer um estupefacto com tanta beleza. Adicionalmente, diversas minorias étnicas cada uma com a suas particularidades habitam esta região fazendo-te assim sentir parte de uma reportagem da National Geographic. O que se pode querer mais?!

Os 3 destinos mais visitados no norte do país são Sapa (conhecida pelos campos de arroz e sobretudo pela variedade de minorias étnicas), Ha Long Bay (quem não conhece este pequeno paraíso conhecido pelas aguas esmeralda e pelas ilhotas de calcário cobertas pelas florestas tropicais que se elevam das águas) e Ninh Binh (do mesmo estilo do Ha Long Bay mas em terra). É difícil escolher qual é que gostámos mais e passo a explicar porquê. 

Sapa 

É uma fusão entre paisagem e cultura, sendo sobretudo famosa pelos seus campos de arroz que realmente são de cortar a respiração. Na altura em que fomos (março), o arroz tinha sido colhido nessa zona mas a paisagem continuava deslumbrante, agora imaginem como será quando se tem o arroz a crescer. 



É também a região do Vietname onde mais minorias étnicas vivem (cerca de 25). Para podermos explorar a região e conhecer essas etnias, existem diversas agências que vendem trekking de 1, 2 ou 3 dias que incluem guia, alimentação e passar a noite na casa duma família duma das minorias. Fizemos o trekking de 2 dias (20km, nada difícil) e foi uma experiência inesquecível. Passeámos pelos campos de arroz por entre as montanhas, vimos paisagens de cortar a respiração, dormimos em casa duma família da etnia chamada Red Dao onde tivemos direito a jantar típico e delicioso preparado pelos donos da casa, experimentámos o rice wine (bebida caseira por cá chamada de happy water), tomámos um relaxante banho de ervas aromáticas e relaxámos ao ouvir o silêncio das montanhas à noite. Mais do que ver os campos de arroz, este tour foi para conhecer a cultura destas etnias. Passámos por várias aldeias e em cada uma vivia uma etnia diferente sobre as quais, com muito gosto, o nosso guia da etnia Black Mong contava-nos sobre os respectivos hábitos. 



Quem tiver disponibilidade recomendamos a visita ao mercado de Bac Há que acontece todos os domingos onde se juntam todas as etnias à volta para fazer as suas compras. Pode ser uma visita complicada uma vez que vê-se à venda de tudo, búfalos, cobras, ratazanas e pior.. cachorros pois eles cá comem cão :( mas a parte interessante é ver as diversas etnias e conseguir distingui-las pelas suas roupas.


Há Long Bay 

Significa literalmente "onde o dragão entra no oceano", é património mundial da UNESCO e é sem dúvida uma visita a não perder no norte do Vietname. A melhor forma de lá ir é marcar com uma agência de viagens directamente em Hanoi o que não será difícil já que há milhões de agências espalhadas pela cidade. Existem tours de 1, 2 e 3 dias e o melhor é escolher um em que se dorme no barco pois a paisagem é tão linda que é impossível ficar lá apenas um dia. Os tours incluem o transfer do hotel até ao porto de Ha Long Bay (e de volta à Hanoi). Uma vez no porto de Ha Long Bay é feito o transfer para o barco onde se vai passar a noite com refeições incluídas e segue-se para aventura. O passeio de barco é lindo, se tiver sorte de apanhar sol, melhor ainda pois Ha Long Bay tem um micro clima, e é preciso muita sorte apanhar um dia de sol. O barco vai andando devagar por entre as montanhas e cada ângulo forma uma paisagem diferente, uma mais linda que a outra. Impossível não tirar muitas fotos. O barco para algures no meio das montanhas para passarmos a noite. Antes do jantar, mudámos para um outro barco pequeno e visitámos uma gruta numa ilha ao lado e ao por do sol (que não o vimos porque estava nublado) tivemos o prazer de fazer kayaking no meio dessa linda paisagem. Dormir no barco e em Ha Long Bay foi algo inesquecível apesar do frio que se fazia sentir. No dia seguinte continuámos o nosso passeio por entre as montanhas e depois voltámos a Hanoi felizes por termos visto essa maravilha e tristes por não ficarmos mais tempo. 




Ninh Binh

O terceiro destino no norte de Vietname é algo parecido a Ha Long Bay mas em terra. É uma zona montanhosa com campos de arroz onde o passeio consiste em ir num barco pequeno pelo rio que passa por entre as montanhas, campos de arroz e grutas. Muito lindo também e é fácil ir a partir de Hanoi apanhando o comboio ou ir por agência turística sendo possível fazer num dia. 



Hanoi

Hanoi, capital do Vietname e ponto de ligação para estes 3 destinos, é uma cidade que se odeia ou se ama. Conhecemos pessoas que disseram que para eles Hanoi é a cidade mais linda no Sudeste asiático (whaaaat??). Nós discordamos mas cada um tem a sua opinião. É verdade que tem um certo charme (ratos de tamanho de gatos e baratas), há uma zona que é tipo o bairro alto de Lisboa, existem bares e restaurantes em todo lado, várias bandas a tocar na rua, a comida de rua é óptima, o passeio à volta do lago situado directamente no meio da cidade é muito bonito também. No entanto é a cidade mais confusa de sempre. É super desorganizada com trânsito caótico, milhares de motas para todo o lado (ok, a cidade de Ho Chi Minh também era mas tinha mais organização) e suja. Passear pela cidade é um stress. Queres andar no passeio? Não podes porque está cheio de mesas e bancos baixinhos (como se fossem da primária) e as pessoas jantam aí, ou então cheio de motas estacionadas. Queres tentar andar na estrada? É perigoso porque as motas andam para todo lado e em sentido contrário se for preciso. Queres atravessar a passadeira? Não é fácil pois ninguém para nas passadeiras e quando digo ninguém é mesmo NINGUÉM. É fechar os olhos, rezar e andar à espera que as motas se desviem. E uma vez iniciada a travessia da estrada nunca parar no meio da passadeira pois aí é que podes ser atropelado (lol). É andar a ritmo constante pois elas (as motas) vão se desviar, eles sabem o que fazem, já andam por cá há mais tempo. 

A cidade gira a volta do negócio, existem lojas e lojinhas, agências de viagens, street food,... em cada metro quadrado. A maioria das guesthouses ou hostels também fazem de agência de viagem e vendem tours para todo o lado. Entras e antes de fazeres o check in já te estão a perguntar para onde vais a seguir tentando vender tours, nem te deixam respirar! Passei a mentir (eu sei que é feio, desculpa mãe não foi isso que me ensinaste mas ajudou) dizendo que era a minha 2ª vez em Hanoi e que já visitei tudo à volta. Tive mais sossego mas depois passaram-me a perguntar "porque é que estás cá de volta, por norma ninguém quer voltar" (POIS). A cidade é tão virada para o negocio que até chateia e cansa. Às vezes pensava que se me vissem ferida na rua a primeira coisa que iam fazer seria tentar vender-me alguma coisa ou algum tour em vez de ajudar. Ok, estou a exagerar mas penso que se tivesse ficado mais um dia ou dois nesta cidade, passaria a odiá-la sem dúvida, por isso acho que sai no momento certo. 

Tirando isso e longe de Hanoi, o interior do Vietname é lindo, com paisagens deslumbrantes, comida deliciosa especialmente o Phó (uma sopa típica), pessoas muito simpáticas sempre prontas para ajudar e dar indicações, muitas etnias com culturas diferentes. 


domingo, 8 de maio de 2016

Hoi An, a cidade amarela

Hoi An, a cidade amarela, situa-se perto de Danang, na parte central do Vietname, não muito longe da praia. Segundo a lenda, antigamente apenas as pessoa abastadas podiam pintar as suas casas de amarelo sendo essa a cor da realeza. Tendo sido Hoi An uma cidade próspera ao longo da sua história devido ao seu comércio, isso proporcionou que imensas pessoas pudessem pintar as suas casas de amarelo como sinal de posse (lenda contada por um habitante). Daí a cidade ter casas maioritariamente amarelas, o que lhe dá um certo glamour sendo uma cidade completamente diferente das restantes cidades asiáticas. 





Existem duas formas para ir de Ho Chi Minh para Hoi An,  de bus (20 horas) ou de avião (1 hora) com o mesmo preço... Obviamente escolhemos a segunda opção já que apanhar voos nacionais no Vietname é muito barato. 

A cidade de Hoi An é o sítio perfeito para fazer roupa à medida. Em qualquer esquina há alfaiates que fazem roupa à medida em menos de um dia. Mas Hoi An não é só roupa, é igualmente a cidade das lanternas! À noite a cidade transforma-se num num espectáculo de luzes com imensas lanternas coloridas por toda a cidade e muitas barraquinhas que as vendem, tornando-se assim num ambiente muito romântico e destino de fotos de casamento de vários casais. 




Alugando uma bicicleta ou uma mota consegue-se fazer um passeio muito agradável à volta da cidade, passear pelos campos de arroz e ver o nascer do sol. Para relaxar, não muito longe do centro está a praia (20 min de bicicleta) e no final da tarde, pode-se parar na vila pescatória para fazer um passeio de barco ou simplesmente observar os pescadores a descer as redes para dentro de água (maneira muito artesanal e típica de pesca) enquanto se aprecia o lindo por do sol.



A visita à cidade é recomendável que seja feita de manhã cedo, ainda não há muitos turistas na rua e consegue-se ver os locais nos seus afazeres e tirar umas belas fotos da cidade quase vazia. Existem vários museus, templos e casas típicas que podem ser visitadas. 


Numa bela manhã tomámos café com um grande fotógrafo francês, Réhahn, do qual já conhecíamos o seu trabalho antes da nossa viagem. Ele mudou-se para Hoi An após uma viagem que o deixou completamente apaixonado pela cidade. Desde então tem fotografado as caras de Vietname tendo feito um grande sucesso. Uma das fotos mais famosas dele é o "hidden smile" tirada a uma senhora que vive em Hoi An e que se tornou a mulher mais famosa do Vietname graças a essa foto que serve também de capa para um dos livros dele. No meio da conversa com o Réhahn, subitamente diz-nos "estão a ver aquela senhora aí no barco à espera de clientes para fazer passeios? É a senhora da capa do meu livro". Foi uma conversa muito interessante com este fotógrafo de renome pois para cada foto dele, tinha uma história por trás, não eram apenas fotografias. Ele contou-nos várias histórias sobre Hoi An e especialmente sobre as pessoas de Hoi An que nos deixou completamente apaixonados por esta cidade. Conseguimos perceber o porquê de ele se mudar para lá. 

Depois de nos despedirmos de Hoi An, a próxima paragem foi a cidade de Hué onde apanhamos pela primeira vez chuva no sudeste asiático. A cidade apenas tem uma cidadela (a cidade proibida) para visitar e alguns templos à volta. Depois de visitar Hué, seguimos para o norte do Vietname para visitarmos aquilo que a maior parte dos turistas no Vietname visitam, a linda Halong Bay.


terça-feira, 3 de maio de 2016

Ho Chi Minh, a antiga Saigon


A nossa estadia no sul do Vietname foi completamente diferente do que estávamos habituados nesta nossa viagem. Chegámos à cidade de Ho Chi Minh (HCM) e em vez do habitual ritual de irmos para a zona dos backpackers da cidade e procurar uma guesthouse barata muitas vezes em condições duvidosas, tínhamos a nossa espera o Ricardo (expat português que trabalha em HCM) e a sua linda esposa, a Lareina, natural das Filipinas país que vamos visitar em breve. A recepção não podia ter sido melhor. Deixaram-nos entrar na casa deles e invadir o seu espaço como se fossemos da família e partilharam connosco histórias sobre como é viver no Vietname e também sobre as Filipinas. Não os conhecíamos antes, ele é irmão do amigo do Tiago e sabendo da nossa aventura convidaram-nos para ficarmos em sua casa. Obviamente aceitámos e desde o primeiro momento sentimos-nos entre amigos. A casa toda ela lindíssima e numa óptima zona da cidade o que para nós, tudo era mais do que luxo tendo em conta ao que já estávamos habituados. Ficaremos gratos para sempre a este lindo casal ;)

Conhecemos também o casal amigo deles, a Hellen e o Eduardo, ambos brasileiros e muito simpáticos. Convidaram-nos para o almoço/jantar brasileiro em casa deles o que foi para além de delicioso, ainda continuo a sonhar com isso! Houve de tudo que uma boa mesa brasileira possa ter, feijoada, farofa, tapioca, pão de queijo (aiii o pão de queijo) e até paçoquita! Comemos até rebolar porque estava tudo muito saboroso. No meio de muitas conversas e risadas passamos um belo dia juntos.


A cidade de Ho Chi Minh é a antiga Saigon e muitas pessoas ainda a chamam de Saigon. Mudou o seu nome após a guerra americana (por nos conhecida como guerra do Vietname) quando o líder dos revolucionários comunistas (os Viet Cong), o Sr. Ho Chi Minh, ganhou a guerra tornando-se o primeiro presidente do Vietname. Como troféu por ter conquistado o sul que na maioria estavam contra ele, alterou o nome de Saigon para Cidade de Ho Chi Minh. 

(estátua do Ho Chi Minh)

Ao contrário do que vimos no sudeste asiático, a cidade de HCM é muito bem organizada e parece-se com uma cidade europeia. Tem grandes arranha-céus todos eles novos, imensos restaurantes modernos, estradas largas e em bom estado, não há a confusão dos tuk-tuk que tentam preços exorbitantes, os táxis que são taxados e melhor, há Uber por isso é muito fácil e barato andar na cidade! No entanto, o transito é.. nem sei como descreve-lo... mas muito caótico. Milhares de motas na cidade, quase impossível atravessar as passadeiras e se pensas que no passeio estás safo, enganas-te, elas (as motas) andam no passeio como se fosse a estrada. É um grande desafio passear nesta cidade. 

 (Notre Dame Cathedral)
(Central Post Office)
(Central Post Office)
 (Ben Thanh Market)
 (Transito na cidade)

É também nesta cidade que está o museu da guerra, War Remnants Museum, museu que relata em fotografias e alguns objectos a história da guerra e especialmente os seus efeitos, tendo o agente laranja (químico usado pelos americanos durante a guerra) direito a uma sala inteira para contar as suas terríveis consequências não só durante a guerra mas também anos após. Não é de todo uma visita fácil. Em cada fotografia que se olha ou história que se leia dá um grande aperto no coração que é impossível não sentir nem que seja uma pequena dor do que se passou nesses tempos. Sais de lá com uma vergonha alheia com uma revolta interior inexplicável e com imensas perguntas sem resposta a tentar perceber o porquê dessas guerras estúpidas que já houve e continuam a haver pelo mundo onde milhares de inocentes morrem por causa da ganância de alguns. Não é fácil especialmente quando já 40 anos após a guerra ainda vês nas ruas pessoas com deficiências causadas pelo maldito agente laranja e muitos deles da nossa idade ou quando ouves histórias em primeira pessoa de alguém que ficou afectado pela guerra. 

(War Remnants Museum)
 (War Remnants Museum)
(War Remnants Museum)

A cerca de 50 km da cidade está a vila Cu Chi conhecida pelos túneis de Cu Chi. Na altura da guerra os habitantes dessa vila construíram debaixo da terra imensos túneis para se protegeram contra o bombardeamento americano. Os túneis são de uma engenhoca rara. Eram compridos e davam para a aldeia toda fazer a sua vida lá dentro. Tinham lá cozinhas com mecanismos artesanais para espalhar o fumo para fora e ventilar os túneis, tinham salas de aulas para as crianças, faziam electricidade com a ajuda de uma bicicleta apenas e até tinham lá dentro um tanque americano que tinha sido abandonado e que servia de bunker para se protegerem em casos mais críticos. Os túneis eram muito estreitos que só dava para o povo vietnamita entrar uma vez que os americanos por norma são duas vezes maiores. E as entradas eram muito camufladas. Pode-se passar por perto, até pisar em cima e não se dar conta que é uma entrada para os túneis. Uma visita muito interessante e enriquecedora sem dúvida. 

(Entrada nos túneis de Cu Chi)

Para fugir um pouco à história e efeitos da guerra, visitámos a delta do Mekong (a cerca de 70 km da cidade), sítio onde o grande rio Mekong que atravessa 6 países (Tibete, Myanmar, Laos, Tailândia, Cambodia e Vietnam) desagua no mar.

                                                                                                (Passeio no Mekong)
(Passeio no Mekong)

Visitar a cidade de Ho Chi Minh marcou-nós por dois motivos. Por termos conhecido de perto a versão vietnamita da guerra que nós desconhecíamos, por ignorância, por falta de informação ou porque simplesmente temos outra perspectiva da guerra, a perspectiva americana. 

O segundo motivo pelo qual ficámos sem dúvida marcados é a hospitalidade com que fomos recebidos e como passámos essa semana com a Lareina e o Ricardo e a Hellen e o Eduardo que nos fizeram sentir em família e como se fossemos amigos de longa data! Sem dúvida ganhamos 4 amigos dos quais já sentimos falta! Muito, muito obrigada e esperemos vê-los em breve!