quarta-feira, 31 de agosto de 2016

Relatos de Bagan


A primeira memória que me vem à cabeça sobre Bagan são os 12 km que andamos a pé, às 7 da manhã, com mais de 30 graus de calor e com as mochilas as costas, tudo isto  para não entrar no esquema dos taxistas que te esperam na estação do autocarro pedindo-te preços absurdos. Isto porque a paragem de autocarro fica bem longe da cidade e a única maneira de ir para a cidade é de táxi, logo...  os condutores pedem preços que não lembra a ninguém. Dissemos que íamos a pé e eles riram-se (depois dos 12 km percebemos porquê). Começámos a caminhada e ainda foram atrás de nós umas quantas vezes na esperança de termos mudado de ideias e nós teimosos e cheios de orgulho (apesar de estarmos a morrer com o calor) dizíamos sempre que não queríamos o táxi. Já se tinha tornado mais uma questão de orgulho e não tanto de poupança. Foi muito cansativo, é verdade, mas o dinheiro que poupámos valeu a pena pois para nós e para o estilo de viagem que estamos a fazer todo o dinheiro poupado pode fazer a diferença. É verdade seja dita não foi assim tão mau, aguentou-se. Quem nunca teve como desejo andar 12 km ao sol com mochilas as costas no meio de Myanmar?!?



Sobre Bagan que é o que interessa mesmo só tenho a dizer que vale mesmo muito a pena lá ir. Visitámos o recinto num dia e é mais do que o suficiente a não ser que sejas um grande entendedor de arquitectura e templos budistas. Há várias maneiras de fazer a visita: a  pé ou bicicleta (o que não recomendamos pois estão uns 40 graus durante o dia e o recinto é muito extenso), de mota eléctrica (maneira muito económica) ou, para um orçamento mais elevado, pode-se ir de carroça ou carro com motorista privado. Há para todos os gostos e bolsos. O nosso bolso permitiu alugar uma mota eléctrica e foi muito divertido. Fomos ver o nascer de sol o que foi bonito mas como estava vento os balões de ar quente não partiram nesse dia e não tivemos a clássica vista do nascer de sol em Bagan com os balões. Os templos (mais de 2000) são um mais bonito que o outro e os maiores (que dá para subir) têm uma vista melhor que a outra. É difícil resistir e não tirar muitas fotos pois cada ângulo é diferente. É um dia cansativo com muito calor, transpira-se muito e bebe-se muita água mas o que se vê recompensa isso tudo. 




A nível de alojamento, Myanmar tem apenas uma pequena parte da sua oferta publicitada nos sites pelo que para os mais aventureiros o melhor a fazer é não marcar alojamento com antecedência, especialmente em Bagan. O quarto mais barato no booking.com era 35$ por noite, achando demasiado caro decidimos ir sem alojamento marcado e encontrámos o sítio onde dormimos por 10$. Ok, pode não ter as mesmas condições mas para nós tanto faz, não é o alojamento que nos faz felizes. E o dono da nossa guesthouse era muito simpático (como a maioria) não se cansava de estar à conversa connosco e contar-nos histórias sobre o passado e a situação actual do país. 

Partimos de Bagan para Mandalay de night bus, sendo que não temos muito a contar sobre Mandalay uma vez que só lá ficamos um dia antes de partirmos para Pyi-u-lwin. Foi em Pyi-u-lwin que tivemos uma outra viagem surreal de comboio. A maioria dos turistas vão para Phi-u-lwin para apanhar um famoso comboio até à cidade Hsipaw. Este comboio é famoso por ter sido construído pelos britânicos depois de conquistar o país. A jornada é bem longa (passámos lá o dia inteiro) mas é compensada pela paisagem linda que se vê. À semelhança da que tivemos em Yangoon ou de qualquer viagem de comboio em Myanmar, esta foi igualmente épica. O comboio abana literalmente por todo lado e vais a viagem toda aos saltinhos. É preciso atar bem as malas senão elas saltam pela janela fora já que todas as janelas estão abertas para refrescar a carruagem. O comboio passa por entre as montanhas e há uma parte em que passa por uma ponte de mais de 100 anos chamada Gokhteik Viaduct Bridge. Aí ele anda mesmo devagarinho, está quase parado pois de outra maneira não se deve aguentar em cima da ponte. Foi nessa viagem que conhecemos um senhor que estava com um rádio portátil e tentar apanhar a frequência certa pois era o dia da tomada de posse do primeiro presidente democráticamente eleito e o seu discurso histórico ia passar na rádio. Fez questão de passar por todas as pessoas da carruagem e traduzir o que o discurso. Não se cansava de dizer o quão orgulhoso estava por este momento é o quanto esperou por ele. 






Chegados a Hsipaw foi por acaso que fomos visitar o palácio do antigo príncipe do estado Shan. Myanmar é formado por vários estados e Hsipaw é a capital de um deles, o estado Shan. A visita a este palácio foi algo diferente, não é tipo um museu por onde possas passear mas sim uma casa onde ainda vive o irmão do príncipe com a respectiva esposa. Estava lá apenas a esposa que nos contou em primeira pessoa a história desse palácio, a vida do príncipe que era casado com uma austríaca, das dificuldades que passaram durante o regime e como ele desapareceu sem ninguém lhe ter o rasto. Claramente foi assassinado. 

Cada sítio que visitávamos ou cada conversa com os locais sobre o passado ou o que esperam do país, deixava-nos cada vez mais apaixonados e curiosos em saber mais e mais sobre este país misterioso.